A primeira proibição ocorreu através de um processo de regulamentação do esporte no Brasil. Criou-se o CND (Conselho Nacional de Desportos) que, na época, estava sob a alçada do Ministério da Educação.
Em 1941, se debatia muito sobre profissionalização e amadorismo, mas ainda de forma rasa. Dessa forma, a temática dos esportes femininos se tornou uma demanda do CND e assim, foi instituído um decreto-lei (3199, art 54). O texto trazia de forma mais geral que as mulheres não deveriam praticar esportes que não fossem adequados a sua natureza. Apesar de não ser citado nominalmente, o futebol se enquadrava.
Em 1965, já no governo militar, o decreto-lei é novamente publicado. Desta vez, de forma mais detalhada. Assim como em 1941, novas notícias de mulheres jogando futebol de forma clandestina circulavam. Entretanto, por conta da proibição, há poucos registros. Desta vez, a deliberação cita especificamente a modalidade.
Apenas no fim da década de 70, no ano de 1979 foi revogada a lei que proibia as mulheres de jogarem futebol. É o início de uma nova jornada para a modalidade entre as mulheres.
O fim da proibição, no entanto, não muda tudo da água para o vinho. O futebol feminino não recebe estímulo de clubes e federações, ainda não foi regulamentado e segue enfrentando proibições pelo país.
Uma das jogadoras mais emblemáticas do futebol feminino, a meio-campista Formiga, nasceu em 1978, ou seja, quando a atleta nasceu a prática do futebol feminino era proibido… Já Marta Vieira da Silva, ou Marta, apenas 6 vezes eleita a melhor do mundo, nasceu em 1986.
Não precisamos ir longe para ver o quanto o futebol feminino foi, para usarmos um termo futebolístico, “escanteado” em nossa sociedade.
O mundo gira… o mundo da bola também… Da proibição a obrigação:
Desde 2019, os clubes da série A do campeonato brasileiro são obrigados pela CBF a terem uma equipe feminina adulta e uma de base, que disputem, ao menos, um campeonato oficial. A medida faz parte do Licenciamento de Clubes, documento que regula a temporada de competições profissionais no país, e segue a orientação da Conmebol, que adota a mesma regra para clubes participantes de Libertadores e Sul-Americana.
Ainda em 2019, Marta usou a Copa como plataforma para reivindicar igualdade de pagamentos de premiações e patrocínios, já que os valores oferecidos por marcas e federações às mulheres sempre foram muito inferiores aos do futebol masculino. No ano seguinte, pressionada pelas atletas, a CBF anunciou a equiparação de diárias e premiações das seleções masculinas e femininas.
Novos recursos, patrocinadores, direitos e reconhecimento são necessidade para a prática, fomento e avanço de qualquer esporte. O futebol feminino depende do avanço da sociedade, dos torcedores e das políticas públicas. Tivemos a sorte de, apesar de uma proibição, a Rainha do Futebol, seis vezes eleita como a melhor do mundo, ser brasileira.
Mas não dá para contar com a sorte. É preciso trabalho e evolução.
Em 2023…
Na estreia da nossa seleção, o principal veículo de transmissão da Copa do Mundo Feminina, a CazéTV, bateu o recorde mundial de audiência simultânea de uma transmissão de futebol feminino no YouTube.
O canal online do streamer Casimiro Miguel alcançou mais de 1 milhão* de aparelhos conectados ao mesmo tempo ainda no primeiro tempo da estreia do Brasil na Copa do Mundo. Já na TV aberta, a Rede Globo registrou o seu maior ibope na faixa de horário da partida desde 2008.
O show em campo na estreia, com direito a um GOLAÇO, alegrou a manhã dos apaixonados por futebol. Afinal, quando a camisa amarela entra em campo todos torcemos pela vitória. Infelizmente, a Seleção Feminina não conseguiu avançar na Copa do Mundo. Mas fica aqui a nossa torcida, respeito e admiração pelas atletas da Seleção Brasileira Feminina.